23 de fevereiro de 2008

Saudades

Sinto saudades de alguma coisa, mas não sei do quê? Como se eu tivesse perdido ou deixado de fazer algo muito importante na minha vida; como, por exemplo: ter dito o que eu não disse; ter calado, na hora da ofensa; podia ter parado para cheirar uma flor e não ter passado sem olhar o jardim; devia ter caminhado o caminho inteiro, em vez de ir por atalhos; ter olhado o horizonte, em vez de baixar os olhos; ter descansado numa sombra fresca, e não correr pra chegar rápido; ter sido criança mais tempo, em vez de querer crescer logo, ser adulto, trabalhar, casar, ter filhos e depois, nem os curtir – pois a vida passa depressa! Choveu muitas vezes e eu nem agradeci a chuva; tampouco eu agradeci o sol; muito menos agradeci a natureza – achei que Deus tinha a obrigação de me dar tudo isso. Não prestei atenção aos frutos e nem provei os seus sabores; eu vi o colibri pousado num galho, e fiz pouco caso; havia alguém necessitando de ajuda, mas não ajudei, fui em frente; na hora de saborear a comida, vagarosamente, eu a engoli, com pressa. Pois é, eu devia ter fechado a torneira, na hora de me ensaboar, mas deixei a água escapar, sem me preocupar com a sede do outro; em vez de ir pra escola, eu gazeteei; em vez de ler um bom livro, eu me revoltei quando ganhei um, no meu aniversário. É! Eu sinto saudades de alguma coisa, mas não sei do quê? Eu deveria ter deitado na relva para admirar as estrelas, mas nem me importei em olhar pro céu; passei pelo riacho e nem sequer o ouvi. Eu podia ter conversado mais, conhecido mais pessoas, mas coloquei o meu walkman e permaneci em casa, trancado no meu quarto, na frente de um computador; eu podia ter escutado os meus pais, mas preferi os amigos inexperientes, como eu; eu podia ter trocado mais carícias, mas preferi a bofetada, a agressão moral. É, “a vida é muito curta pra ser pequena”. Agora, sinto saudades de alguma coisa, mas não sei do quê? Ou quem sabe seja de muitas coisas, que na minha pressa, deixei de realizar? Pode ser. Não sei se haverá tempo, mas algumas delas, ainda eu posso fazer.
jfmachado_8@hotmail.com

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Jairo! Gostei muito deste texto, é bem verdade, fez-me lembrar da música:"Só uma palavra me devora, aquela q meu coração ñ diz..".Um abração.
Jôsi(Celidonio)

Anônimo disse...

Olá Jairo,parabens!Valeu pela reflexão. Muitas vezes não valorizamos as pequenas coisas e perdemos tempo com as menos importantes.É preciso saber viver!
Abraços a todos.
Juarez.

Lilia disse...

Amei esse artigo! Belo jeito de dizer a verdade.