Tanto a pedra era bonita por sua circunstancial imponência insurgindo da terra no horizonte, iluminada a sua face leste pelo reflexo do luar nos filetes d´água que dela escorria, quanto era bonita pela beleza que os olhos dele julgavam ver lá longe, estampado na pedra - o rosto da mulher amada: Ana Carolina. Senão eram os efeitos da lua na pedra, era a lua derramando lá os seus encantos, fazendo desenhos mágicos no rochedo: o sorriso de Ana Carolina, aqueles lábios sensuais, exatos no formato e gosto de quando ele a beijava em seus sonhos. Imaginava que a jovem realmente subisse o alto da montanha, nos dias de lua cheia, para melhor vê-lo à distância, muito além da mansidão dos morros! O brilho da lua era os olhos dela procurando os seus. Assim, ele retribuía da forma como mais sabia: com o seu infinito olhar de moço apaixonado. Dali, da curva da estrada, o ponto de onde melhor podia contemplá-la, naquela hora, ele apeava do cavalo, atendendo aos chamados do próprio coração. Quem sabe a lua lhe mostrasse novamente, a face de sua amada, naquele noite? Balbuciava em pensamento, não uma palavra qualquer, mas o nome dela: Ana Carolina. Falava à lua, como se estivesse falando com o seu amor. Talvez a lua lhe desse notícias, dela? Onde ela estava? Como estava? E se pensava nele? O cavalo ao lado, na lassidão do cansaço, enquanto ele suspirava fundo o amor que de há muito lhe magoava o peito! O animal parecendo querer ajudar: criar asas e levá-lo à imensidão da pedra. Ou onde Ana Carolina estivesse, naquele momento; mesmo que fosse aos confins do mundo: queria dar fim àquele sofrimento. Toda lua cheia ele permanecia horas ali, contemplando a montanha, os olhos na pedra bonita.
O que havia lá nas lonjuras do horizonte, de tão importante, que ele se amargurava tanto – parecia querer saber o cavalo? Num certo momento, ele sorria; noutro, chorava. Como se Ana Carolina aparecesse e novamente sumisse feita cena passada numa tela de cinema. Iam-se os desenhos mágicos, ia-se o rosto de Ana Carolina: a imagem que a lua projetava pra ele, na pedra, modo acalentá-lo. Mas qual o quê, a lua só fazia aumentar o seu desespero; estava desesperançado, momento em que uma nuvem cobriu a lua por inteira; e nada mais ele pode ver – escureceu-se o horizonte tanto quanto escureceu nos seus olhos e no seu coração. Assim, o brilho do seu olhar foi-se indo aos poucos, quando percebeu que tudo não passava de ilusão: Ana Carolina não existia. Amava um fantasma. Tal como são claras e escuras as vicissitudes do amor. E nunca mais ele parou naquele trecho de caminho. Nem sequer olhou mais a lua cheia; tampouco olhou a pedra bonita, lá distante... No dia em que o seu cavalo também bateu asas e voou; o levando na garupa, pra longe dali.
Um comentário:
Muito bons seus textos Sr Jairo!
Este o que mais gostei!
Abraço e sucesso!
Guilherme Szczerbowski
Três Barras - SC
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